Tribo de emoções
O modo de vestir e de agir não deixa dúvida: eles fazem parte de uma tribo urbana que leva o rótulo de emotiva até no nome: são os “emos”. Mas essa turma provoca polêmica por onde passa. No tradicional reduto dos roqueiros paulistas, eles chegam a ser hostilizados.
De longe, eles até parece punks. Usam muito preto. Das roupas aos olhos. É de perto que as diferenças aparecem. Por baixo dos casacos escuros, há camisetas infantis, saia quadriculado, bijuteria de bola.
E tem as franjas. Longas, lisas e coloridas, jogadas na cara. “Nunca jogo para o mesmo lado, cada hora vai de um jeito. Senão acabo tropeçando em algum lugar, batendo nas pessoas”, disse Alexandre Portela, 16 anos.
Os abraços e as mãos dadas são outra marca dessa tribo. Eles são “emo”: emotivos, emocionais. “Uma pessoa que não tem medo de demonstram seu sentimento pela outra”, disse uma garota. “Se emociona com as músicas, uma música pesada, mas com letras bonitas”, diz outra integrante da tribo.
A música é a alma dessa tribo. Uma música que mistura a batida pesada do rock com os sentimentos de quem está descobrindo as próprias emoções. O curioso é que esses adolescentes acabam se identificando com canções inspiradas em sentimentos de quem já passou dos 30.
É o caso de Nenê Altro, vocalista da primeira banda Emo do país. “Nós escrevemos sobre experiências pessoais nossas, mas é claro que já fomos adolescentes. Rola a identificação”, explica. A banda está na estrada do rock desde 1996, mas foi nos últimos anos, que a banda fez a banda chegar à lista das mais tocadas. Detalhe: nenhum deles tem franja e a tribo não cobra nada.
Faz parte da filosofia pregar a tolerância, em todos os sentidos. Inclusive, nas opções sexuais. Tanta tolerância acabou gerando intolerância. As outras tribos, não gostam deles.
“Eles estão muito preocupado com a imagem e com a banda que toca na mídia”, disse um garoto. E um Emo explica: “As pessoas têm muito preconceito com nosso estilo, porque acham que é homossexual, porque é diferente”, diz Maurício Sanches.
Em uma galeria em São Paulo, freqüentada por punks, roqueiros e metaleiros, os Emos também não são bem-vindos. Em uma loja, há até uma placa que sinaliza a discriminação. “Eles param na porta das lojas, encostam nas vitrines, o que acaba inibindo algumas pessoas de entrar nas lojas”, afirma Gláucio Leme, lojista.
Se na rua eles provocam polêmica, em casa não é diferente. Algumas mães são radicais. “A minha mãe já pegou as minhas roupas e rasgou. Eu fiquei com raiva e comprei de novo”, contou Laís Xavier, de 15 anos.
A mãe de Laura Moro é mais compreensiva: aceita os amigos dela e até a mudança constante na cabeça da adolescente. “É um cabelo diferente, uma cor diferente. Proibir eu não acho que seja o caminho”, diz a mãe Iara Paes.
Na conversa, acabamos descobrindo que a mesma adolescente que prega a demonstração de todas as emoções, em casa, se fecha. “Eu sou a mais sentimental do grupo, mas para você eu não demonstro isso. É estranho demonstrar seus sentimentos para os pais”, fala para a mãe. “A gente tem que conversar, ficar mais próximo. Se tiver que me tornar da tribo dela, eu vou fazer para ficar mais próximo dela”, diz a mãe.
Parece que algumas coisas não mudam, seja lá qual for a tribo.
Fonte:Jornal Hoje >Globo.com
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